Farol Psicologia - Lins SP

A Farol Psicologia surgiu da idéia de criar um espaço para expor nosso trabalho como psicólogos e pensadores dos dias de hoje.
O farol é nossa inspiração, como um norteador no mar incerto, na incompletude.
Como psicólogos atuamos com as palavras, muitas vezes com o inacessível, e para isso buscamos na psicanálise, na psicologia, nas artes, na poesia, e outras "ciências" respostas, e por que não, mais perguntas.
Quem somos?

Mariana Rosa Cavalli Domingues

Psicologa Clínica e Judiciária
Psicóloga pela UEL, Especializada em Clinica Psicanalítica e Mestre em Filosofia pela UFSCar

@marircd

e
Taciano Luiz Coimbra Domingues

Psicólogo Clínico e Judiciário
Psicólogo pela UEL, Especializado em Terapia de Casal e de Família, Especializado em Terapia sexual e Mestre em Psicologia pela UNESP - Assis.


Rua José Garcia de Carvalho, 70 Lins - São Paulo,
tel.: (14) 99109 - 2016

domingo, 13 de agosto de 2023

LIBERDADE DE EXPRESSÃO É POSSÍVEL?

 



LIBERDADE DE EXPRESSÃO É POSSÍVEL?

 

Taciano Luiz Coimbra Domingues


No último sábado do mês de maio de 2021, uma parcela da população brasileira não cumpriu as regras sanitárias em relação a pandemia (G1,2021). Pessoas de todos os estados foram às ruas para protestar contra o governo federal, em favor da vacina e da democracia em nosso país. Interessante que poder protestar e fazer reivindicações de forma pública e em aglomerações só é possível em um país minimamente democrático.

Então de que democracia estamos falando? Rosenfield (1994) explica que democracia vem do grego antigo e tem como significado etimológico “governo do povo ou governo da maioria”. Ele coloca que essa forma de governo surgiu como uma diferenciação da monarquia “governo de um só” e aristocracia “governo de alguns”.

O autor esclarece que na Grécia Antiga esse conceito não era só relacionado a forma de governo, mas uma questão importante da cidades-estados, no caso aqui Atenas. Além de estar relacionada a vida material, também guarda aproximação com a liberdade política e conviver bem com a comunidade em que o cidadão pertence (ROSENFIELD, 2017). O cidadão vivia sua presença na governança da cidade de forma ativa, participando e tendo voz em todas as decisões que afetavam o seu cotidiano, ou seja, era uma democracia participativa, bem diferente da atual democracia representativa, onde nós escolhemos um representante para defender nossos interesses na esfera federal, estadual e municipal, no executivo e no legislativo. No entanto, com tantas notícias de corrupção (G1, 2021), fica difícil acreditar que estamos sendo bem representados.

Depois da experiência ateniense na antiguidade clássica, por muitos séculos, inclusive milênios, nenhuma país adotou a democracia como forma de governo. Essa situação mudou quando na América do Norte, treze colônias do Reino Unido entraram num processo de independência no século XVIII. Atualmente esse país é a maior economia do mundo e o principal baluarte de um governo democrático, apesar de inúmeros percalços na sua história recente. Na sua carta magna (SOUSA, 2021), composta de poucos artigos, a primeira emenda merece grande atenção:

EMENDA I: o Congresso não legislará no sentido de estabelecer uma religião, ou proibindo o livre exercício dos cultos; ou cerceando a liberdade de palavra, ou de imprensa, ou o direito do povo de se reunir pacificamente, e de dirigir ao Governo petições para a reparação de seus agravos.

O primeiro Estado democrático moderno deixou em destaque na primeira emenda várias liberdades e entre elas, o livre discurso, tanto da imprensa, como do cidadão comum. A liberdade de expressão é algo imprescindível numa democracia. A perda da liberdade de expressão e do livre discurso são os primeiros direitos abolidos em governos ditatoriais. Nós tivemos essa experiência no Brasil no século passado, na cultura muitas músicas e peças teatrais foram censuradas, negando assim o direito da liberdade de expressão (KLANOVICZ, 2010).

Entretanto, a livre opinião tem limites? Quando o Livre Discurso se transforma no Discurso do ódio?

 O discurso de ódio compõe-se de dois elementos básicos: discriminação e externalidade. É uma manifestação segregacionista, baseada na dicotomia superior (emissor) e inferior (atingido) e, como manifestação que é, passa a existir quando é dada a conhecer por outrem que não o próprio autor. A fim de formar um conceito satisfatório, devem ser aprofundados esses dois aspectos, começando pela externalidade” (SILVA et al., 2011, p.447).

Podemos apreender que livre expressão tem seus limites quando deixa de representar uma liberdade ou opinião e é usada como arma e agressão contra o outro, o qual pode ser um grupo, etnia ou minoria. Contudo se esses limites forem generalizados, impedindo de forma engessada a manifestação de opiniões contraditórias da maioria, ou que são consideradas antissociais, as pessoas terão o seu discurso livre negado (SILVA et al, 2011). A maior expressão desse “policiamento ostensivo”, é o termo politicamente correto, o qual lança um verniz superficial, mascara a realidade, sem alterar efetivamente os preconceitos e as discriminações.

E nessas contradições entre discurso livre, liberdade de expressão, discurso do ódio e politicamente como correto, como fica a escola? O discurso que a escola deve formar “livres pensadores” é perene, por outro lado, Foucault (2009) explana que a escola é uma instituição que padroniza, modela e impõe normatizações ao comportamento humano. Diante disso, podemos fazer a seguinte reflexão: é possível ser livre, sem ser incorreto? O Grande educador Rubem Alves (2001) discorre o seguinte:

"Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado."

 

 REFERÊNCIAS

 ALVES, R. Gaiolas e Asas. Folha de São Paulo, São Paulo, 5 dez. 2001. Opinião.

 FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Rio de Janeiro: Vozes, 2009.

 GLOBO COMUNICAÇÃO E PARTICIPAÇÕES S. A. G1, c2021.

 KLANOVICZ, L. R. F. No olho do furacão: Revista Veja, censura e ditadura militar (1968-1985). Revista Literatura em Debate, v. 4, n. 6, p. 34-50, jan-jul.; 2010.

 ROSENFIELD, D. L. O que é democracia. São Paulo: Brasiliense, 2017.

 SILVA, R. L. et al. Discursos de ódio em redes sociais: Jurisprudência brasileira. Revista Direito GV, v. 7, n. 2, p.445-468, jul-dez; 2011.

 SOUSA, Rainer Gonçalves. "A Constituição dos Estados Unidos"; Brasil Escola

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Mutante não fica na estante por muito tempo


Mariana R. C. Domingues


A vida tem certas coincidências que são presentes e me mostram uma conexão com o mundo. Um dia antes da despedida de Rita Lee deste plano, estava ouvindo a música “Mutante”. Tão bom quando música boa fica na cabeça... Então fui remetida pra outra canção “Na estante”, da Pitty. Com as músicas em mente, foram surgindo algumas conexões. Foi aí que veio a ideia desse texto, que será minha homenagem singela à querida Rita Lee.

Trata-se de um texto de brincadeira musical, longe de querer analisar, explicar e espero não estragar a poética das canções com alguma mania de psi... vou partir da visão de mulher psicóloga que teve alguns insights. Aviso que me dei ao luxo de misturar as canções.

               As duas músicas trazem um coração despedaçado e mostram o sentimento de rejeição.  A dor de não ser correspondido desnorteia e deixa a pessoa num sofrimento que parece sem fim. Nessas horas, há sensação de loucura, desejo de morte, desproteção e vulnerabilidade. Podemos perceber isso em versos como “quando eu me sinto um pouco rejeitada, me dá um nó na garganta”, ou “pena que você não me quis, não me suicidei por um triz”; “você está saindo da minha vida, e parece que vai demorar”. Na animação do clipe de “Na estante” visualizamos um sujeito sem coração, o robô sem alma. Quanta dor nesse coração que foi entregue voluntariamente, ou involuntariamente: “Ai de mim que sou romântica”, “eu estava aqui o tempo todo só você não viu”, “afinal de contas te dei meu coração, e você pôs na estante”.

               As pessoas se identificam com essas músicas pelos recortes tão vívidos e íntimos das relações amorosas. Algo do corpo e da intimidade como “você me deixou de tanga” ou “você me vê vermelha e acha graça”. Outro ponto delicado está na insistência em algo que já passou. Quando por exemplo, as pessoas sabem que não estão mais sendo amadas, ou até mesmo respeitadas e permanecem tentando: “tô aproveitando cada segundo, antes que isso aqui vire uma tragédia”, ou “kiss me baby”.

Mas estamos falando de mulheres que não estão apenas a lamentar; “ai de mim que sou romântica”. As músicas também remetem a uma pessoa que quer sair de uma relação ruim, que quer romper um vínculo, mas não consegue. Há um desejo de pelo menos esquecer, como nos versos “choro até secar a alma de toda mágoa, depois eu parto pra outra, como um mutante”, “seguindo o meu caminho”. Há uma luta pra superar esse sentimento, “só por hoje não quero mais te ver”. Tal como uma droga, “não quero tomar minha dose de você”.

               Para finalizar, destaco aqui que a música da Pitty chama-se “Na estante”, local ao qual parece ter havido uma questão... a formação linguística da frase, faz a gente pensar que houve uma situação em que o eu lírico seria colocado numa estante, mas que isso não foi concluído. Esse sujeito precisou protestar ou lutar contra isso, "mas eu não ficaria bem na sua estante". No caso da música da Rita Lee, o coração foi feito troféu no meio da bugiganga, na estante ficou. Pensando nisso tem um importância a canção se chamar “Mutante”. Há uma promessa de que a pessoa não ficará ali. Mesmo que ainda sinta, no fundo sempre sozinho, a gente intui que essa abstinência uma hora vai passar.  


E um viva às mulheres do rock:    

                     





 

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Aniverário de Adeus

 


Aniversários de Adeus

 

Hoje é saudade!

Sentir a falta da presença!

Abraçar a lembrança da permanência!

 

Hoje é saudade!

Rememorar as boas vivências!

Desejar esquecer as tristes experiências!

 

Hoje é saudade!

Derramar lágrimas de sofrimento!

Distribuir sorrisos de agradecimento!

 

Hoje é saudade!

Tentar dissolver a raiva da indignidade!

Lutar por um mundo com integridade!

 

Hoje é saudade!

Padecer com o adeus que se distancia!

Serenar com o tempo necessário!

Pois o reencontro da pessoa querida!

Se aproxima a cada Adeus de aniversário!

 

Taciano Luiz

quarta-feira, 15 de março de 2023

SOBRE RESIGNAÇÃO E LIBERDADE

 Associando livremente sobre a letra e o clipe da música "As it was"


                                                                 Mariana R. Cavalli Domingues



    A música de Harry Styles de 2022  toca nas rádios, nas mídias sociais e diretamente nas pessoas. Chama a atenção com seu ritmo dançante e cíclico, numa sobreposição de camadas de sentimentos (como bem nos explica @pianoquetoca).

    Foi a música que me capturou, mas quando vi o clipe, algumas ideias me vieram a mente, de forma a sentir a necessidade de escrever. Pra mim é irresistível quando música, letra e dança aparecem integrados numa obra artística.

    O clipe se inicia com pessoas com roupas formais, provavelmente em caminho ao trabalho, com semblante tedioso. "Gravity's holdin' me back"... "Nothin' to say, when everything gets in the way". São versos e imagens que descrevem a rotina do dia a dia, a roda viva que se cria nas atividades repetitivas e que passam se ser vividas de forma automatizada e sem energia.

    Na cena seguinte, a imagem  nos remete a essa mesma ideia, mas de forma poética.  Nela vemos um cenário irreal e um casal andando em círculos e com roupas coloridas e brilhantes. Esse traje indica que  por baixo dos casacos pesados, existe a individualidade, com suas escolhas particulares. Mas o casal anda com o semblante sem emoção, com breves encontros e desencontros. Aqui ouve-se o verso "it's just us, you Know it's not the same... " Há uma cumplicidade nesse viver juntos em um mundo hostil, por isso ele diz "você sabe".  

    No clipe, o casal consegue se tocar e o abraço entre eles parece modificar o clima emocional, mas ele se desfaz. Então a mulher parece tentar se aproximar, mas escorrega e cai ao chão. A cena gera um certo mal estar, mas é cortada pelo gesto de Harry, que aponta para o teto. Parece um clique no celular, parece buscar outra realidade, como ao se distrair nas telas. 

    Vê-se a imagem de uma 3ª dimensão, com planos diferentes e surreais, e as pessoas tirando suas roupas de trabalho. Não é exatamente uma cena sensual, remete muito mais à intimidade, à vulnerabilidade do corpo humano, na cena, em contato com a natureza, com o céu azul. 

    O casal novamente tenta se reconectar, se encaram, estão deitados, tentam um abraço, mas não é possível. São cercados por outros, por grades e pelo rompimentos do chão. Há entre eles um olhar de resignação. Uma separação forçada pelas contingencias. Quem não passou por uma dessas durante a pandemia... 

    Mas depois desse tipo de clarão, assim como depois de grandes momentos históricos, volta-se a andar em círculos, correndo e sem se encontrar. A música canta "Go home, get ahead, light-speed internet".

    E o mais incrível, no final, mesmo titubeando na roda girante, ele consegue se erguer e dançar. Aí o livre do corpo que dança e rompe com o movimento preestabelecido e repetido em orbita. Vai ao ar puro, num cenário de uma cidade comum, confere as roupas do corpo. Sim, são aquelas que apontam a liberdade na escolha, roupa de palco eu diria, mas certamente não é aquela pesada e protegida, e nem aquela que remetia a uma desproteção e exposição do corpo.

    O sujeito se percebe  vivo, como quando voltamos a sair de casa sem mascara. Como quem sai de casa com a autenticidade, em conexão consigo mesmo. Dança e sorriso. O  mundo não será como foi antes, e é tão bom quando, diante disso, se pode escolher que dança fazer. Não é algo simples. Nesse pós pandemia ainda temos os corpos  e pensamentos marcados pelo incontrolável e temos adiante o desafio de sair da roda e dançar. 

        Para finalizar, não poderia deixar de citar Milton Nascimento e Beto Guedes: "Sei que nada será como antes amanhã..."

    

    

segunda-feira, 27 de junho de 2022

PRECONCEITO, MULTIPLICIDADE E ESCOLA

 


Saudações!! Segue Minha proposta de colocar aqui os ensaios que escrevi durante uma disciplina do doutorado. O tema desse é:


PRECONCEITO, MULTIPLICIDADE E ESCOLA

                                                                                Taciano L. C. Domingues


Nos estudos sobre a origem do homem, a antropologia relata que nos últimos vinte oito mil anos existiam duas espécies de hominídeos, contudo somente o Homo Sapiens Sapiens prevaleceu, o Homo Neanderthalensis foi extinto. Existem indícios de que essas duas espécies tiveram contato, inclusive que uma causou o fim da outra (BLUMRICH, 2020).

Existem referências históricas da dificuldade da espécie humana em se relacionar com o diferente e com a diferença. Para os Romanos e Gregos, todos outros povos da antiguidade eram considerados bárbaros porque não falavam o mesmo idioma, não veneravam os mesmos deuses e não tinham a mesma organização social (DICIO, 2021). Para se tornar civilizado, o bárbaro teria que adotar os mesmos costumes do dito civilizado. Sublinhamos que estamos descrevendo o comportamento de povos de há mais de 2 mil anos, alguma semelhança com a atualidade não é mera coincidência.

Um exemplo mais próximo da nossa história de como pode ser equivocada a apreensão da diferença, foi o momento fundante do Brasil, Pindorama para os índios, em 1500 pelos portugueses. O escrivão Pêro Alves Cabral retratou os autóctones como: primitivos, inocentes, ingênuos; necessitando serem educados, catequizados e vestidos; negando a cultura indígena (SEABRA, 2000).

Uma poesia muito bonita sobre isso, “ERRO DE PORTUGUÊS” de Oswald de Andrade, poeta e escritor paulistano, ex-marido de Tarsila do Amaral, importante membro da Semana de Arte Moderna de 1922: “Quando o português chegou debaixo de uma bruta chuva. Vestiu o índio. Que pena! Fosse uma manhã de Sol. O índio teria despido o português”.

Todavia teria um grau alento se a: alteridade, estrangeiro, forasteiro, alienígena, diferente, esquisito, alheio fossem conceitos, palavras e expressões usadas somente para outras nações e etnias; sarcasticamente não, é entre os membros da mesma cultura que as dessemelhanças ganham maior força e são alvo de discriminação e preconceitos. Nossa sociedade usa e abusa de modelos e padrões de: conduta, corpos, pensamentos, objetivos de vida, amores, conhecimentos e de ensino; excluindo e marginalizando o que não se enquadra.

Parece uma insensatez essas afirmações sobre um povo multicultural como o nosso, mas podemos fornecer alguns dados sobre isso. O Brasil foi o país que realizou o maior número de cirurgias plásticas estética no mundo em 2020, a rinoplastia como principal (FOLHA VITÓRIA, 2021). Isso mostra uma grande preocupação com os padrões de beleza.

A LGBTfobia expõe a dificuldade em conviver com o diferente. Numa pesquisa realizada em 2016 com estudantes LGBTs, 73% deles informaram que foram agredidos verbalmente devido a sua orientação sexual ou comportamento. (POLETIZE!, 2021).

E quando as diferenças não são externas, não são interpessoais, são intrapessoais? O ser humano não é uniforme na sua subjetividade, ele pode ser acometido por sentimentos, pensamentos e ações diferentes que expressam a multiplicidade e não a sua unicidade (CARDOSO JUNIOR, 1996). Portanto, uma pessoa pode apresentar várias características diferentes, dificuldades e potencialidades.

Um exemplo dessa multiplicidade são os gênios humanos (superdotação) que também apresentavam dislexia (transtorno que dificulta a aprendizagem através de uma perturbação na leitura e na identificação de fonemas). O físico Albert Einstein foi um exemplo dessa dupla condição, inclusive existem relatos que ele só começou a falar depois dos 6 anos idade (DIVULGAÇÃO DINÂMICA, 2021), sofrendo no ambiente escolar porque não se enquadrava nos padrões esperados para os estudantes, nem para “mais” e nem para o “menos”.

Foucault (2009) descreve a escola como uma instituição que busca moldar o ser humano, promovendo sua padronização. Refletindo sobre os escritos desse autor, podemos supor que a escola pode tratar os dois lados da dupla condição com dificuldade, uma vez que o estabelecimento de educação pode lançar o mesmo olhar para o que foge da fôrma, do que não é esperado, mesmo que seja uma superdotação. Na busca de uma uniformidade dos alunos, pode ocorrer tanto estranhamento do que está “abaixo da média” (medicando no caso da Dislexia) quanto o que está “acima da média” (ignorando as suas altas habilidades).

 

 

REFERÊNCIAS

BLUMRICH, L. Uma biografia pré-histórica. Revista de Arqueologia, [S. l.], v. 33, n. 2, p. 167–169, 2020.

CARDOSO JUNIOR, H. R. A origem do conceito de multiplicidade segundo Filles Deleuze. Trans/Form/Ação, São Paulo, 19: 151-161, 1996.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Rio de Janeiro: Vozes, 2009.

POLETIZE!, c2021. Página inicial. Disponível em: <https://www.politize.com.br/>.

R7. FOLHA VITÓRIA, c2021. Página inicial.

SEABRA, J. A. Descoberta do outro na carta de Pero Vaz Caminha. Revista de Letras e Culturas Lusófonas, [S. l.], n. 8, p. 63-71, jan./mar. 2000.

SETE GRAUS. DICIO – Dicionário Online de Português, c2021. Página inicial.

The Education Club. Divulgação Dinâmica, c2021. 20 personalidades famosas com dislexia. 


segunda-feira, 9 de maio de 2022

A leitora curiosa cansada

Compartilho com vocês um pequeno texto poético e despretensioso;

 


A leitora curiosa cansada

 Mariana R C Domingues


A leitora da madrugada tentava vencer o sono com sua curiosidade pelas palavras que poderiam lhe fornecer o desconhecido.

As palavras em fileiras organizadas da esquerda pra direita, alinhadas e estruturalmente tornadas compreensíveis, com o passar das horas pareciam se embaralhar. Com esforço no olhar ela retornava ao início da frase, o que dizia mesmo? A leitora cansada começa a perceber que aquelas palavras não estão a lhe oferecer mais nada. Mas insiste.

Então de súbito, de uma ponta a outra da linha escrita, uma rede se forma e despeja palavras escondidas. Uma rede tal como as de se deitar. Realmente estava cansada aquela moça. Uma rede tecida sem linhas, mas apenas com aqueles significantes intrusos a dançar pela tela do computador, nas entrelinhas.  Não era uma rede cognitiva, mas precisava se libertar daquela cadeia não significativa. Não era uma rede social e nem afetiva. Num sonho talvez poderia se embalar, mas tomba-lhe a cabeça.

Num piscar de olhos tudo volta ao normal. O texto está inteiro ali a sua frente, desafiando sua resistência a dormir, sua resistência física de maratonista, resistindo à tentação de enredar-se numa rede de algodão, querendo manter-se no enredo daquele saber.

Uma coisa ficou clara naquela madrugada:  muitas palavras podem se esconder numa rede entrelinhas. 

 


Rede – peça de tecido resistente (de algodão, linho ou fibra) suspenso pelas extremidades, usado para dormir ou embalar.


segunda-feira, 7 de março de 2022

EVASÃO ESCOLAR E O VALOR DA EDUCAÇÃO

 


Saudações!! Segue outro ensaio interessante que escrevi numa disciplina do doutorado. Seu tema é:


Evasão Escolar e o Valor da Educação

Taciano Luiz Coimbra Domingues

 

A economia de um país é algo importante! Uma forma calcular o seu “tamanho” é através do seu Produto Interno Bruto (PIB). Ele é formado pela soma de todos bens e serviços produzidos pelo país durante um ano. O Brasil, apesar de ter perdido algumas posições nos últimos dez anos, ocupou o 12 º lugar no ranking mundial (DICIONÁRIO FINANCEIRO, 2021). Essa colocação foi embasada nos dados fornecidos em abril de 2021 pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Nesse ranking, o Brasil fica na frente de países como: Austrália, Espanha e Suíça. Cientes dessa informação podemos dizer que o Brasil é um país pobre?

Na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os seus dados indicaram um aumento de 11,2% no índice de pobreza no Brasil entre 2016 e 2017. Isso é muito preocupante porque com esse aumento, em 2017 chegamos ao número de 53% dos brasileiros vivendo na pobreza extrema (CHILDFUND, 2021), ou seja, a pessoa vive com menos de 1,90 dólares por dia.

Como podemos evidenciar, o Brasil não é um país pobre de recursos econômicos, entretanto, tem um alto índice de pessoas vivendo na miséria como consequência de uma má distribuição de renda. Como poderíamos combater essa questão?

Evangelista e Shiroma (2006) destacam que a partir dos anos 1990, vários autores começam a defender a Educação como a solução de vários problemas sociais. Entre vários, os autores apontam: o tratamento desigual das pessoas diante do sistema de justiça; oportunidades econômicas e sociais oferecidas de acordo com características de classe social, raça, credo e cor; falta de solidariedade entre os cidadãos, inclusão social e pobreza.

Contudo como anda a Educação num país tão desigual como o nosso? Principalmente em relação as crianças e adolescentes que sofrem de forma direta os impactos da pobreza (COSTA et al., 2016)? Se a Educação é um meio de superação da pobreza é importante estarmos atento a um problema muito grave relacionado a esse direito constitucional, que é a evasão escolar.

A PNAD (OBSERVATÓRIO DE EDUCAÇÃO, 2021) forneceu dados alarmantes sobre essa questão. No ano de 2018, 40% dos brasileiros de 19 anos não haviam concluído o ensino médio. Dos jovens ouvidos que não haviam terminado o ensino médio, 55% pararam de estudar no ensino fundamental. O que leva nossas crianças e adolescentes a abandonarem a escola?

Figueiredo e Salles (2017) sublinham que a evasão escolar sofre influência de vários fatores: subjetivos, familiares, do funcionamento da escola, da renda familiar, dependência química, tráfico de drogas, gravidez na adolescência, violência etc.

No entanto um fator importante que muitas vezes não é mencionado nas pesquisas é o valor que a sociedade brasileira dá para o estudante. O perfil da pessoa que lê livros, entrega as tarefas em dia e se interessa em aprender é bem quisto na nossa sociedade? Invejado? Admirado? Ou muitas vezes é chamado de “CDF”, “nerd” e sofre chacotas e desdém dos colegas?

Em 2020, o Brasil ficou em 10º lugar na Olímpiada Internacional de Matemática (G1, 2021), melhor resultado em 39 anos. Ficamos na frente de países como Canadá, França, Japão e Alemanha. Algum leitor lembra desse feito e fato tão importante para nossa Educação?

Em um país em que o principal título acadêmico é usado como pronome de tratamento de forma leviana para agradar ou demonstrar respeito para “autoridades”, mas raramente para quem tem o título stricto sensu, é importante uma reflexão do que nós brasileiros realmente valorizamos como objetivos de vida.

 

Referências

CHILDFUND. Childfundbrasil, c2021.

COSTA, J. S. S. M. et al. Funções executivas e desenvolvimento infantil: habilidades necessárias para a autonomia. São Paulo: Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, 2016.

FIGUEIREDO, N. G. S.; SALLES, D. M. R. Educação Profissional e evasão escolar em contexto: motivos e reflexões. Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v. 25, n. 95, p. 356-396, abr./jun. 2017

GLOBO COMUNICAÇÃO E PARTICIPAÇÕES S. A. G1, c2021.

SETE GRAUS. Dicionário Financeiro, c2021.