Mutante não fica na estante por muito tempo
Mariana R. C. Domingues
A vida tem
certas coincidências que são presentes e me mostram uma conexão com o mundo. Um
dia antes da despedida de Rita Lee deste plano, estava ouvindo a música “Mutante”.
Tão bom quando música boa fica na cabeça... Então fui remetida pra outra canção
“Na estante”, da Pitty. Com as músicas em mente, foram surgindo algumas conexões.
Foi aí que veio a ideia desse texto, que será minha homenagem singela à
querida Rita Lee.
Trata-se de um
texto de brincadeira musical, longe de querer analisar, explicar e espero não
estragar a poética das canções com alguma mania de psi... vou partir da
visão de mulher psicóloga que teve alguns insights. Aviso que me dei ao luxo de
misturar as canções.
As
duas músicas trazem um coração despedaçado e mostram o sentimento de rejeição. A dor de não ser correspondido desnorteia e
deixa a pessoa num sofrimento que parece sem fim. Nessas horas, há sensação de
loucura, desejo de morte, desproteção e vulnerabilidade. Podemos perceber isso
em versos como “quando eu me sinto um pouco rejeitada, me dá um nó na garganta”,
ou “pena que você não me quis, não me suicidei por um triz”; “você está saindo
da minha vida, e parece que vai demorar”. Na animação do clipe de “Na estante” visualizamos
um sujeito sem coração, o robô sem alma. Quanta dor nesse coração que foi
entregue voluntariamente, ou involuntariamente: “Ai de mim que sou romântica”, “eu
estava aqui o tempo todo só você não viu”, “afinal de contas te dei meu
coração, e você pôs na estante”.
As
pessoas se identificam com essas músicas pelos recortes tão vívidos e íntimos das
relações amorosas. Algo do corpo e da intimidade como “você me deixou de tanga”
ou “você me vê vermelha e acha graça”. Outro ponto delicado está na insistência
em algo que já passou. Quando por exemplo, as pessoas sabem que não estão mais
sendo amadas, ou até mesmo respeitadas e permanecem tentando: “tô aproveitando
cada segundo, antes que isso aqui vire uma tragédia”, ou “kiss me baby”.
Mas estamos
falando de mulheres que não estão apenas a lamentar; “ai de mim que sou romântica”.
As músicas também remetem a uma pessoa que quer sair de uma relação ruim, que
quer romper um vínculo, mas não consegue. Há um desejo de pelo menos esquecer,
como nos versos “choro até secar a alma de toda mágoa, depois eu parto pra outra,
como um mutante”, “seguindo o meu caminho”. Há uma luta pra superar esse
sentimento, “só por hoje não quero mais te ver”. Tal como uma droga, “não quero
tomar minha dose de você”.
Para finalizar, destaco aqui que a música da Pitty chama-se “Na estante”, local ao qual parece ter havido uma questão... a formação linguística da frase, faz a gente pensar que houve uma situação em que o eu lírico seria colocado numa estante, mas que isso não foi concluído. Esse sujeito precisou protestar ou lutar contra isso, "mas eu não ficaria bem na sua estante". No caso da música da Rita Lee, o coração foi feito troféu no meio da bugiganga, na estante ficou. Pensando nisso tem um importância a canção se chamar “Mutante”. Há uma promessa de que a pessoa não ficará ali. Mesmo que ainda sinta, no fundo sempre sozinho, a gente intui que essa abstinência uma hora vai passar.
E um viva às mulheres do rock:
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