Compartilho com vocês um pequeno texto poético e despretensioso;
A leitora curiosa cansada
A leitora da
madrugada tentava vencer o sono com sua curiosidade pelas palavras que poderiam
lhe fornecer o desconhecido.
As palavras em
fileiras organizadas da esquerda pra direita, alinhadas e estruturalmente
tornadas compreensíveis, com o passar das horas pareciam se embaralhar. Com
esforço no olhar ela retornava ao início da frase, o que dizia mesmo? A leitora
cansada começa a perceber que aquelas palavras não estão a lhe oferecer mais
nada. Mas insiste.
Então de súbito,
de uma ponta a outra da linha escrita, uma rede se forma e despeja palavras
escondidas. Uma rede tal como as de se deitar. Realmente estava cansada aquela
moça. Uma rede tecida sem linhas, mas apenas com aqueles significantes intrusos
a dançar pela tela do computador, nas entrelinhas. Não era uma rede cognitiva, mas precisava se
libertar daquela cadeia não significativa. Não era uma rede social e nem
afetiva. Num sonho talvez poderia se embalar, mas tomba-lhe a cabeça.
Num piscar de
olhos tudo volta ao normal. O texto está inteiro ali a sua frente, desafiando
sua resistência a dormir, sua resistência física de maratonista, resistindo à
tentação de enredar-se numa rede de algodão, querendo manter-se no enredo
daquele saber.
Uma coisa ficou clara naquela madrugada: muitas palavras podem se esconder numa rede entrelinhas.
Rede – peça de tecido resistente
(de algodão, linho ou fibra) suspenso pelas extremidades, usado para dormir ou
embalar.