Farol Psicologia - Lins SP

A Farol Psicologia surgiu da idéia de criar um espaço para expor nosso trabalho como psicólogos e pensadores dos dias de hoje.
O farol é nossa inspiração, como um norteador no mar incerto, na incompletude.
Como psicólogos atuamos com as palavras, muitas vezes com o inacessível, e para isso buscamos na psicanálise, na psicologia, nas artes, na poesia, e outras "ciências" respostas, e por que não, mais perguntas.
Quem somos?

Mariana Rosa Cavalli Domingues

Psicologa Clínica e Judiciária
Psicóloga pela UEL, Especializada em Clinica Psicanalítica e Mestre em Filosofia pela UFSCar

@marircd

e
Taciano Luiz Coimbra Domingues

Psicólogo Clínico e Judiciário
Psicólogo pela UEL, Especializado em Terapia de Casal e de Família, Especializado em Terapia sexual e Mestre em Psicologia pela UNESP - Assis.


Rua José Garcia de Carvalho, 70 Lins - São Paulo,
tel.: (14) 99109 - 2016

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

TERRA

 


 Mariana R C Domingues


O ser humano se faz no convívio com os outros no seu ambiente. É o contato com sua realidade terrena e as características biológicas e químicas que fazem uma troca possível e equilibrada que permite a vida como a conhecemos. Ao longo da história, as civilizações humanas tratam de melhor condicionar as forças da natureza para conseguir conforto e minimizar possíveis efeitos destrutivos dos fenômenos naturais. Assim são pensadas as casas, os encanamentos, as calhas, as janelas, as hidrelétricas, as torres, as estradas... E neste viver civilizado uma infinidade de objetos são criados. Coisas são feitas para utilidade, coisas são feitas como ornamento.

“Coisas são só coisas servem só pra derrubar,

tem seu brilho no começo,

mas se viro pelo avesso,

são um fardo pra carregar”. Chico César.

E essas coisas que precisamos, que não precisamos e queremos são feitas de materiais extraídos na natureza. Objetos que são feitos de materiais da natureza transformada e, as vezes, quase irreconhecível.  A busca por esses materiais beira, e as vezes toca a insanidade. Quanta loucura e destruição se fez na busca por metais... Podemos encontrar um exemplo disso nas fotos de Sebastião Salgado sobre a Serra pelada; nos filmes ‘Olhe para cima”, ou até mesmo na literatura no livro “Senhor dos anéis” que descreve uma montanha devastada pela ganancia onde cavou-se um buraco fundo demais.

Falando em buraco vamos falar de alguns mineiros. Não aqueles que cavaram os buracos, mas aqueles que moram no Estado de Minas Gerais.

Recentemente Samuel Rosa compartilhou o comentário de outro mineiro Chico Pinheiro em suas redes sociais. No referido trecho Chico conta que foi de carro do Rio de Janeiro até Belo Horizonte e que ficou chocado com a paisagem. Lembrou de Drummond que alertou; Olhem as montanhas! Contou que pelas estrada se via paredões a encobrir o trabalho das mineradoras a roer as montanhas. As minas gerais estão se tornando cada vez mais gerais, as minas a inverter as montanhas. Cito Carlos Drummond de Andrade:

 

Confidência do Itabirano,

 

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa…

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!




 


            Esta imagem mostra a paisagem descrita no poema de Drummond. No livro, a foto em branco e preto trazia a visão da montanha ao fundo da mesma paisagem que a imagem atual traz, sem a montanha.

            Nesta ideia de montanha comida, montanha furada, terra esburacada sem parcimônia para a produção de materiais fica a reflexão: vale a pena juntar tantas coisas e ficar sem as montanhas? Esta cultura que domina, parece prometer um mundo mágico em que é possível ter todas as coisas e também as montanhas e suas terras. Trata-se da dificuldade em lidar com a falta e castração próprias do ser humano. E o mais irônico é que no fim das contas, se não for a montanha, é a terra que terá os homens.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário