Farol Psicologia - Lins SP

A Farol Psicologia surgiu da idéia de criar um espaço para expor nosso trabalho como psicólogos e pensadores dos dias de hoje.
O farol é nossa inspiração, como um norteador no mar incerto, na incompletude.
Como psicólogos atuamos com as palavras, muitas vezes com o inacessível, e para isso buscamos na psicanálise, na psicologia, nas artes, na poesia, e outras "ciências" respostas, e por que não, mais perguntas.
Quem somos?

Mariana Rosa Cavalli Domingues

Psicologa Clínica e Judiciária
Psicóloga pela UEL, Especializada em Clinica Psicanalítica e Mestre em Filosofia pela UFSCar

@marircd

e
Taciano Luiz Coimbra Domingues

Psicólogo Clínico e Judiciário
Psicólogo pela UEL, Especializado em Terapia de Casal e de Família, Especializado em Terapia sexual e Mestre em Psicologia pela UNESP - Assis.


Rua José Garcia de Carvalho, 70 Lins - São Paulo,
tel.: (14) 99109 - 2016

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Faça o seu melhor! Mesmo exausto?

    



    Saudações!! Finalizo a minha proposta de compartilhar textos curtos que escrevi durante uma disciplina do doutorado. O último ensaio tem como tema o esgotamento físico e mental presente e estimulado em nossa sociedade. 


 

Faça o seu melhor! Mesmo exausto?

Taciano Luiz Coimbra Domingues

 

Koshimura (2017) explica que gambatte (頑張って) tem origem japonesa, é a flexão do verbo gambauru e é uma expressão de encorajamento, de dar força e esperar pelo melhor. A jornalista coloca que em tradução direta significa: faça o seu melhor, dê o seu melhor e esforce-se ao máximo. O verbo flexionado em primeira pessoa, gambarimasu, significa vou dar o melhor de mim.

A frase do título é muito conhecida, ela invoca algo de positivo em nós, no nosso esforço, na nossa dedicação, na importância de sempre buscar o máximo, seja na escola, no trabalho ou na nossa vida pessoal. Contudo também é uma armadilha, fala de algo que não está bom, não está suficiente e de sempre se esforçar ao máximo, uma frase imperativa que pode provocar hiperatividade naqueles que têm Superfoco ou Superávit de Atenção (FONSECA, 2017). Esses termos se referem a um estado de vigília e atenção constante diante de determinada situação ou acontecimento. Não prestamos atenção ao nosso redor quando estamos com superfoco, é uma capacidade de extrema de concentração e dedicação a determinada tarefa. Esse superávit de atenção dificulta perceber o que acontece a nossa volta, em nosso ambiente, não permitindo a interação com outros elementos ou acontecimentos importantes que acontecem em nosso ambiente.

Koshimura (2017) esclarece que gambatte também representa a forma que o japonês enfrenta os problemas da sua vida. Enquanto na nossa cultura brasileira, temos várias condutas de solicitar ajuda a terceiros, os japoneses são estimulados a contarem consigo mesmos na superação de dificuldades e desafios, por isso a formação gambarimasu (vou dar o melhor de mim).

O “gambarismo” pode conduzir à vários problemas pessoais e sociais, uma vez que uma visão individual do cotidiano, onde eu seria toda a potência, único responsável pelo meu sucesso ou meu fracasso, pode criar um sentimento de solidão e de não poder pedir a ajuda ao outro. Esse problema é tão sério, que no início de 2021, o governo japonês criou o Ministério da Solidão (CNN BRASIL, 2021). Esse ministério foi uma atitude pautada no aumento dos suicídios nesse país após 11 anos. Ele tem a função de desenvolver atividades voltadas a saúde mental da população.

Entretanto o sentimento de só contar consigo mesmo, ou que o seu sucesso depende exclusivamente de você, basta você se esforçar, imortalizado no dito popular: querer é poder, está também presente no mundo do trabalho e dos estudos. Existe o mito do “vou me matar de trabalhar/estudar” para conseguir uma promoção ou passar no vestibular. O que muitas vezes não se concretiza porque como dito antes, os fenômenos da vida são multifatoriais e sofrem influência de muitas variáveis.

“Ele ganhou dinheiro; ele assinou contratos; e comprou um terno; trocou o carro; e desaprendeu a caminhar no céu; e foi o princípio do fim” (Os Paralamas do Sucesso – Busca Vida).

Esse esforço em ser bem-sucedido ou buscar gozar ao máximo os prazeres da vida, tem fomentando uma geração de indivíduos cansados, esgotados. Não é à toa que o mito do zumbi é tão atual na nossa sociedade e utilizado em tantas produções cinematográficas, seja em filmes, seja em seriados que duram anos.


REFERÊNCIAS

FONSECA, M. A. P. Superfoco: promovendo a efetividade das pessoas e das organizações. Rio de Janeiro: Ed. Access, 2017.

JAPÃO NOMEIA PRIMEIRO MINISTRO DA ‘SOLIDÃO’ PARA CUIDADOS COM A SAÚDE MENTAL. CNN BRASIL, São Paulo, 25 fev. 2021. 

KOSHIMURA, P. Ganbatte e as diferenças do jeito japonês de desejar boa sorte. Peach no Japão, 04 mai. 2017. .