Saudações!! Finalizo a minha proposta de compartilhar textos curtos que escrevi durante uma disciplina do doutorado. O último ensaio tem como tema o esgotamento físico e mental presente e estimulado em nossa sociedade.
Faça o seu melhor! Mesmo exausto?
Taciano Luiz Coimbra Domingues
Koshimura
(2017) explica que gambatte (頑張って) tem origem
japonesa, é a flexão do verbo gambauru e é uma expressão de encorajamento, de
dar força e esperar pelo melhor. A jornalista coloca que em tradução direta
significa: faça o seu melhor, dê o seu melhor e esforce-se ao máximo. O verbo
flexionado em primeira pessoa, gambarimasu, significa vou dar o melhor de mim.
A frase do título é muito
conhecida, ela invoca algo de positivo em nós, no nosso esforço, na nossa
dedicação, na importância de sempre buscar o máximo, seja na escola, no
trabalho ou na nossa vida pessoal. Contudo também é uma armadilha, fala de algo
que não está bom, não está suficiente e de sempre se esforçar ao máximo, uma
frase imperativa que pode provocar hiperatividade naqueles que têm Superfoco ou
Superávit de Atenção (FONSECA, 2017). Esses termos se referem a um estado de
vigília e atenção constante diante de determinada situação ou acontecimento.
Não prestamos atenção ao nosso redor quando estamos com superfoco, é uma
capacidade de extrema de concentração e dedicação a determinada tarefa. Esse
superávit de atenção dificulta perceber o que acontece a nossa volta, em nosso
ambiente, não permitindo a interação com outros elementos ou acontecimentos
importantes que acontecem em nosso ambiente.
Koshimura (2017)
esclarece que gambatte também representa a forma que o japonês enfrenta os
problemas da sua vida. Enquanto na nossa cultura brasileira, temos várias
condutas de solicitar ajuda a terceiros, os japoneses são estimulados a
contarem consigo mesmos na superação de dificuldades e desafios, por isso a
formação gambarimasu
(vou dar o melhor de mim).
O “gambarismo” pode conduzir
à vários problemas pessoais e sociais, uma vez que uma visão individual do
cotidiano, onde eu seria toda a potência, único responsável pelo meu sucesso ou
meu fracasso, pode criar um sentimento de solidão e de não poder pedir a ajuda ao
outro. Esse problema é tão sério, que no início de 2021, o governo japonês
criou o Ministério da Solidão (CNN BRASIL, 2021). Esse ministério foi uma
atitude pautada no aumento dos suicídios nesse país após 11 anos. Ele tem a
função de desenvolver atividades voltadas a saúde mental da população.
Entretanto o sentimento
de só contar consigo mesmo, ou que o seu sucesso depende exclusivamente de
você, basta você se esforçar, imortalizado no dito popular: querer é poder,
está também presente no mundo do trabalho e dos estudos. Existe o mito do “vou
me matar de trabalhar/estudar” para conseguir uma promoção ou passar no
vestibular. O que muitas vezes não se concretiza porque como dito antes, os
fenômenos da vida são multifatoriais e sofrem influência de muitas variáveis.
“Ele ganhou dinheiro; ele assinou contratos; e comprou um
terno; trocou o carro; e desaprendeu a caminhar no céu; e foi o princípio do
fim” (Os Paralamas do Sucesso – Busca Vida).
Esse esforço em ser bem-sucedido ou buscar gozar ao máximo os prazeres da vida, tem fomentando uma geração de indivíduos cansados, esgotados. Não é à toa que o mito do zumbi é tão atual na nossa sociedade e utilizado em tantas produções cinematográficas, seja em filmes, seja em seriados que duram anos.
REFERÊNCIAS
FONSECA, M. A. P. Superfoco: promovendo a efetividade das pessoas e das organizações. Rio de Janeiro: Ed. Access, 2017.
JAPÃO NOMEIA PRIMEIRO MINISTRO DA ‘SOLIDÃO’ PARA CUIDADOS COM A SAÚDE MENTAL. CNN BRASIL, São Paulo, 25 fev. 2021.
KOSHIMURA, P. Ganbatte e as diferenças do jeito japonês de desejar boa sorte. Peach no Japão, 04 mai. 2017. .